Planejamento, gravidez e puerpério. Fases de expectativas, desejos, inquietações e dúvidas. Em tempos de isolamento social e pandemia, esses sentimentos ficam ainda mais intensos. E é por isso que convidamos Juliana Tfauni, psicóloga, psicodramatista e psicanalista, coordenadora do Curso de Saúde Mental e Perinatal na Gestação, Parto e Pós-Parto do Instituto Sedes Sapientiae, para tirar as dúvidas de quem está grávida ou quer ter um filho, de quem está no pós-parto ou se preparando para chegar lá.
Como lidar com a ansiedade, a frustração e o medo? Como se preparar com tranquilidade para o parto? Como driblar a solidão que o isolamento social pode potencializar? Essas é outras questões, Juliana Tfauni responde aqui embaixo.
Estou fazendo tratamento para engravidar. Como lidar com o fato de que provavelmente terei que adiar a minha gravidez por conta da pandemia?
Quando queremos muito uma coisa, é difícil ter que esperar, ainda mais se há uma longa trajetória de espera por um filho. Mas lembre-se de que adiar não é suspender. Tenho convidado as famílias a aproveitar este momento fazendo o necessário e possível em relação ao tratamento: dá para fazer leituras e pesquisas sobre o assunto ou de profissionais que podem te ajudar, por exemplo. Ao mesmo tempo, é hora de liberar o casal da pressão de engravidar. Brinco que é momento de transar por prazer, sem objetivo de procriar! O que pode ser um convite bacana, pois vemos em alguns casais um distanciamento do prazer e da intimidade por colocar uma pressão no sexo como forma exclusiva de ter um filho.
Tenho medo de não poder engravidar até surgir uma vacina. Como lidar com essa frustração?
Pouco se sabe ainda sobre as consequências de contrair coronavírus na gestação. Apesar de as grávidas comporem o grupo de risco, as pesquisas são muito recentes. No caso de uma gestação planejada, os médicos com os quais trabalho têm indicado esperar. Porém, no caso do tratamento de reprodução assistida, a indicação dos profissionais tem sido feita caso a caso. Então, procure a orientação de um profissional. O que costumo dizer é que este pode ser um momento de aceitar o convite da vida de lidar com a falta de controle, o que pode ser um preparo para a parentalidade. E praticar a resiliência!
Como manter a calma e a saúde emocional durante a gestação, focando no positivo e deixando a tensão de lado?
Ansiedade e insegurança na gestação e na proximidade do parto estão presentes de forma geral. Todas as gestantes são lançadas a uma experiência desconhecida e inaugural, principalmente as mães de primeira viagem. Porém, não é normal que esses sentimentos tragam uma paralisia. Estamos vivendo um momento de exceção, privados de um trânsito social, e isso pode potencializar essa experiência. Procurar ajuda de um profissional da saúde mental especializado em perinatalidade pode ajudar. Estar atenta ao que te traz bem-estar e mal-estar neste momento, assim como fazer uma atividade intelectual, física, e usar a tecnologia a seu favor para manter vínculos com as pessoas queridas, também.
Como conter a expectativa da família (à distância) durante a gravidez?
Para muitas mulheres, a expectativa da família acaba gerando mais ansiedade. A parentalidade é uma oportunidade para exercitar o autoconhecimento e a comunicação, para se perguntar o que traz bem-estar e mal-estar, comunicar as suas necessidades para quem está perto de você, pedir ajuda ao parceiro ou à parceira. Tudo isto pode te ajudar a enfrentar tantas expectativas. Talvez valha se preservar das relações e situações que potencializem ainda mais a ansiedade e, se tiver dificuldade em fazer isso, tente pedir ajuda para quem você tem intimidade.
Estou muito ansiosa e tenho medo de atrapalhar o desenvolvimento do bebê na minha barriga. O que fazer?
A ansiedade, assim como todos os sintomas emocionais, pode ser vista como uma forma do nosso corpo pedir ajuda. E quando ficamos paralisados ou com muita dificuldade em lidar com isso, é importante pedir apoio de um profissional. Um psicólogo especializado em saúde mental perinatal, por exemplo, pode ajudar você a compreender o que está produzindo essa ansiedade, e a cuidar de você neste momento. E ao cuidar de você, você também cuida do vínculo com o seu bebê.
Como posso dar conta da escola do meu filho, do trabalho e da gravidez nesta pandemia?
Você não precisa dar conta de tudo, faça o que é possível e lembre-se de pedir ajuda para seu parceiro ou sua parceira, ou para quem puder. Tente perceber o que é prioridade para vocês: talvez neste momento o mais importante não é dar conta de tarefas da escola do seu filho mais velho, e sim poder estreitar o vínculo com ele, reservando um tempinho do dia para dedicar-se só a ele, por exemplo. Isso pode ser bem importante na gravidez, mas depois também, no pós-parto, quando o bebê irá demandar mais de você.
Meu filho mais velho ainda não sabe que estou grávida. Tem um jeito certo de contar a ele, neste momento?
Um filho envolve uma transformação na vida de todos os envolvidos, inclusive do filho mais velho. Conte de uma forma que você se sinta confortável, alguns livros infantis sobre o assunto podem ajudar. Precisamos ajudá-lo a entender e legitimar que ele perderá “o lugar de filho único”, mas ganhará algo também: “um irmão”, e outras coisas. Poder dar lugar para os afetos, às vezes contraditórios, é muito importante. Então acolha, mesmo se ele sentir algo que parece “inadequado”, como a raiva. Permita que ele se sinta parte dessa chegada, como for possível: ajudando a preparar o canto do bebê e conversando sobre como ele se imagina como irmão são algumas ideias. Conte o que vai acontecer e tente dar alguma previsibilidade, assim as crianças se sentem mais seguras.
Minha família não estará por perto no meu puerpério por causa do isolamento social. Estou com medo.
Suporte social no puerpério é verdadeiramente importante. “Para criar um bebê é preciso uma aldeia”, embora não pareça para quem está de fora! Perdemos isso na vida contemporânea das grandes cidades e a mulher acaba vivendo um puerpério muito solitário. Além disso, há uma romantização do pós-parto que não dá lugar para os desafios que a mulher possa ter. Frequentar um grupo de pós-parto – mesmo que online! – pode ser uma alternativa para essa sensação de solidão, e que se revela muito potente. Organizar videochamadas com pessoas queridas e pedir ajuda pode diminuir a sensação do distanciamento físico e te ajudar a se sentir cuidada para poder cuidar do seu bebê. E se o peso e sensação de solidão permanecer, procure ajuda de um psicólogo.Também vale lembrar que se tornar mãe e pai é um processo, e a gente vai aprendendo: ninguém nasce sabendo.
Tenho um bebê de 3 meses e a família pede videochamada. Você acha que pode ser ruim pra ele?
Estamos vivendo um momento de exceção e precisamos avaliar o custo e benefício das nossas ações e escolhas. Se por um lado a tecnologia não é indicada nessa idade, as pesquisas também sugerem que o distanciamento social pode ter impactos psíquicos no longo prazo – somos seres sociais, afetivos, e isso precisa ser considerado. Então, coloque na balança como oferecer esse tempo com a família que está longe, de um jeito possível para vocês. Ser mãe e pai nos lança numa tarefa desafiadora de escolher e decidir por uma outra pessoa. Neste caso não tem certo ou errado, tem o que funciona para cada família!
Sobre o Bloom
Somos um benefício corporativo que revoluciona a forma como empresas cuidam de mães e pais que trabalham. Por meio de uma plataforma de serviços digitais que apoia a jornada da parentalidade, promovemos a orientação personalizada às famílias e melhores práticas de gestão para empresas conscientes.
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